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🇧🇷 Japiim: o pássaro artesão e imitador da Reserva Mamirauá

Estes impressionantes pássaros podem imitar os sons de diversas espécies de animais, incluindo os macacos-de-cheiro que vivem no entorno da Uakari Lodge!

Uakari Lodge | Mamirauá Reserve | Amazon Brazil

Um dos animais que dificilmente passa despercebido durante estadia na pousada Uacari é o japiim (Cacicus cela). Seja pelas múltiplas vocalizações, pelo ninho diferente, pelos bandos retornando aos seus poleiros comunais ao entardecer ou pela aparência física mesmo, fato é que essas aves fantásticas vão atrair sua atenção de alguma maneira!

Os japiins, ou xexéus como são conhecidos popularmente em outras regiões, são pássaros da família Icteridae, que tem ocorrência nas Américas. Os machos têm em média 28 centímetros e são maiores que as fêmeas, que medem normalmente 24 cm, mas ambos apresentam a plumagem preta e amarela (numa tonalidade bem forte), e tem ainda o bico e os olhos bem claros e destacados. São aves sociais e polígamas, ou seja, um macho copula com várias fêmeas (a quantidade vai depender do nível de dominância do macho no bando).

Vivem em grandes colônias que podem variar de 2 a 250 ninhos espalhados em uma ou duas árvores. É interessante observar durante os passeios a quantidade de ninhos ativos durante uma época reprodutiva, numa média eu diria que vemos atividade em cerca de 20 a 40 ninhos por vez. Ah, e não se trata de qualquer ninho… esses pássaros estão entre os tecelões do Novo Mundo, o que significa que as fêmeas fazem um incrível trabalho artesanal, tecendo ninhos de gravetos, capim e fibras de palmeira; os maiores ficarão como uma bolsa pendente nos galhos de grandes árvores. Essa configuração reprodutiva fornece alto grau de proteção contra predação, já que um grupo grande de indivíduos se torna menos suscetível, alguns mamíferos arborícolas poderiam partir galhos ao tentar predar ovos, tucanos têm dificuldades para acessarem os ovos nas bolsas por conta de seus grandes bicos e ainda os ninhos são construídos próximos a vespeiros, o que pode intimidar diferentes predadores.

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As vocalizações também são impressionantes, japiins conseguem imitar mais de 20 espécies de animais, principalmente outras aves como tucanos, periquitos, gaviões, corujas-caburé e até mamíferos como os macacos-de-cheiro. Além disso, tem seus cantos próprios, que juntamente com o vasto repertório de imitações varia em cada colônia, sendo considerado um dialeto. Esse conjunto específico de sons funciona como uma “senha social” de reconhecimento do grupo e em competições para estabelecer a dominância entre os machos (juntamente com o tamanho do mesmo). E quando eu digo competições falo literalmente! Os machos fazem uma disputa de canto onde um começa uma vocalização do repertório daquele grupo e depois o outro tem que continuar, aquele que não souber completar perde.

Alguns cantos podem ser acompanhados de exibições curiosas, que não chegam a ser uma dança como nas aves do paraíso, mas são muito legais de observar! Meu canto/exibição preferido dos japiins é o que pode ser descrito como Bowing display (exibição de reverência) ou Horizontal display (exibição horizontal), pois além do som estridente o pássaro (normalmente macho em corte) abaixa o corpo e a cabeça, eriça as penas do pescoço e costas, sacodindo rapidamente as asas. Nós humanos muitas vezes nos vemos como uma espécie superior, com nossos dialetos e sons culturais passados de geração em geração, capacidade de criar competições de canto ou passos de dança, habilidades para construir estruturas duráveis e belas… engraçado pensar como compartilhamos tanto com a natureza e muitas vezes nem nos damos conta.

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Créditos:

. Texto e imagens: Cynthia Lebrão 

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