top of page

🇧🇷 A Guia Naturalista em Campo: Vida Comunitária na Reserva Mamirauá

Para os ribeirinhos que tem uma relação próxima com as águas desde muito cedo, andar de canoa é tão natural quanto caminhar.

Uakari Lodge | Mamirauá Reserve | Amazon Brazil

Comunidade da Reserva Mamirauá durante o período de cheia

Já contei um pouco aqui no blog sobre as comunidades ribeirinhas de Mamirauá. Como guia naturalista que sou (pra não dizer pessoa metódica 😀 ) no primeiro post dei um breve contexto histórico e neste podemos abordar mais a dinâmica atual das comunidades.

O aspecto que mais chama atenção dos hóspedes da Pousada Uacari durante a visita às comunidades com certeza é a resiliência do povo ribeirinho frente ao ciclo das águas. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá está totalmente inserida num ambiente de várzea, que é um tipo de floresta inundável da Amazônia. Ou seja, há duas estações anuais principais: a cheia (que aqui em Mamirauá vai de fevereiro a agosto e os rios recebem em média 10 metros de água) e a seca (setembro a janeiro). Essa dinâmica ao mesmo tempo que oferece atrativos para as populações humanas (recurso pesqueiro e solo fértil) impõe algumas dificuldades (até 4 meses sem terra seca por exemplo). Apesar de não ser uma vida fácil, a maioria das populações humanas na Amazônia está concentrada em áreas de várzea.

Uakari Lodge | Mamirauá Reserve | Amazon Brazil

Morador local da Reserva Mamirauá tecendo rede para pesca

Os seres humanos, como os outros habitantes da várzea, desenvolveram estratégias especiais para habitar esse ambiente. Só de olhar para as casas já é possível concluir isso, os ribeirinhos moram em casas de madeira elevadas ou em casas flutuantes, assim, quando a cheia vem e o chão some as casas não ficam submersas. Em alguns anos, porém, a cheia é maior e pode ultrapassar o piso das casas, forçando os ribeirinhos a construir outro piso mais elevado para esse período ou ainda buscar abrigo na casa de parentes nas cidades.

Os ribeirinhos utilizam barcos e canoas para os deslocamentos durante a cheia, principalmente para pescar (que é a principal atividade de muitos deles) e também para realizar seus afazeres dentro da comunidade, já que não é possível caminhar. Mas para os ribeirinhos que tem essa relação tão próxima com o rio desde muito cedo (é normal ver crianças pequenas aprendendo a nadar ou acompanhando os pais para pescar e outras de sete anos remando e pescando sozinhas) andar de canoa é tão natural quanto caminhar.

Durante a seca é possível plantar a mandioca e a macaxeira (que junto com o peixe são as bases alimentares da região), o milho, o jerimum, feijão de praia, melancia e outros. Como o solo é muito fértil a mandioca, que geralmente leva um ano pra estar boa para colher, aqui é colhida em seis meses. No final da colheita os ribeirinhos produzem artesanalmente a farinha Uarini, esta variedade de farinha de mandioca chamada também de ovinha (por ter formato de bolinha como a ova dos peixes) é a preferida da região e foi declarada patrimônio cultural e alimentício da Amazônia. A farinha pode ser armazenada para ser consumida durante a cheia pela família e o excedente vai ser levado para as cidades para que os ribeirinhos possam vender e assim trocar por outros produtos como café, leite em pó, arroz, etc.

Uakari Lodge | Mamirauá Reserve | Amazon Brazil

Comunidade da Reserva Mamirauá durante o período de seca.

Essas atividades: o cuidar da terra, plantar, colher, preparar farinha normalmente são responsabilidade de cada família, mas existem atividades que a comunidade toda desempenha junto, como por exemplo, os mutirões (conhecidos por aqui como ajuris) para limpeza e corte da grama durante a seca. Aliás, é muito interessante esse senso comunitário e a organização das comunidades, a maioria delas é uma associação formal que tem uma diretoria (presidente, vice, secretário, tesoureiro, etc.) eleita pelos comunitários.

Existem muitos aspectos interessantes na vida comunitária e por ser uma realidade completamente diferente da maioria vivida pelos nossos hóspedes as visitas às comunidades são sempre um exercício de aprendizado e empatia. Nem se eu quisesse traduzir essa experiência em texto, não conseguiria… você simplesmente terá de nos visitar!

***

Créditos:

. Texto: Cynthia Lebrão

. Imagens: Gui Gomes

bottom of page