É nas redondezas da Uakari Lodge que se encontra a maior população desta espécie – que está em perigo de extinção
Um assovio alto e longo (parecido com aqueles que antecedem explosões de bombas em desenhos animados): esse é um dos sons que todos os passarinheiros que nos visitam querem ouvir. Porém, ouvi-lo é completar apenas a primeira etapa da busca, é preciso em seguida parar o barco, ficar em silêncio, identificar de onde vêm o som e procurar por algum movimento em meio às altas copas das árvores.
Apesar de os donos da vocalização descrita acima serem aves grandes (medem cerca de 90 cm e pesam em média 2,5kg) são difíceis de localizar por serem muito tímidas e ariscas e por ficarem quase a totalidade do seu tempo nas densas copas das árvores. O nome popular desses animais na região de Mamirauá é Mutum-piurí e em outros lugares pode ser conhecido como Mutum-de-fava por conta dos apêndices globosos acima e abaixo do bico, que apenas os machos apresentam. Esta característica foi destacada também no nome científico da espécie: Crax globulosa.
A distribuição do Mutum-piurí (Crax globulosa) está intimamente ligada às florestas de várzea em alguns locais da porção centro-oeste da bacia Amazônica, fazendo-se presente em cinco países: Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. No entanto, as áreas de ocorrência são pequenas e isoladas, sendo que a subpopulação mais saudável (estimada em mais de 250 indivíduos) está na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM).
Por ser uma espécie rara e ameaçada encontra-se na categoria “Em Perigo de extinção” na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza e Recursos Naturais). As principais ameaças a esta e outras espécies de mutuns são a perda de hábitat e a caça, que já vitimaram o Mutum-do-Nordeste (Pauxi mitu) e este encontra-se extinto na natureza. Cada vez mais as atividades humanas estão provocando o desaparecimento de espécies. Este fenômeno, conhecido por termos como “Sexta extinção” e “Defaunação do Antropoceno”, tem sido cada vez mais estudado e relatado, e o mais triste disso tudo é que por vezes nem chegamos a conhecer as espécies e suas particularidades (comportamento, reprodução, etc.). Cada vez que vejo um Mutum-piurí durante um passeio sinto um enorme privilégio e uma pontinha de esperança!
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Créditos:
. Texto: Cynthia Lebrão
. Imagens: Bianca Bernadon
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